A Riachuelo acaba de lançar, a preços acessíveis, uma linha de pulseiras, cordões e anéis, para homens. A cadeia de fast fashion mergulhou na onda do pulseirismo, que domina a cena no Instragram , a meu ver, o mais novo canal detector de tendências. Não vivo sem, assumo.
A foto acima ilustra muito bem o modismo, que há algum tempo, é pauta de revistas que vão da L'Uomo Vogue, à jovem e pop, Nylon Guys.Abaixo, pulseiras e anel da Riachuelo com preços que variam de R$ 15,90 a R$ 25,90.
Mas, o tal homem enfeitado, faz parte de um movimento muito maior, que fundamenta o capítulo VI, do meu livro, o Almanaque da Moda Masculina. Esta verdadeira revolução liderada por jovens cavalheiros contemporâneos, que batizei de #gentlemania, é o saudável tsunami de publicações impressas e digitais (as de qualidade) que trazem de volta, adaptadas aos nossos dias, as velhas normas da elegância masculina. Regras estas, derrubadas, quando os hippies anos 60/70 declararam, "é proibido proibir", acreditando terem criado a anti-moda. Abaixo maisberloques da coleção da Riachuelo, dentro da faixa de preços citada.
Em 2005, a exposição "L'Homme Paré" que rolou no Musée de la Mode e du Textile, em Paris, foi um espécie de testemunho e arauto de um comportamento que hoje está contagiando todo universo masculino. Das principais grifes de roupas e acessórios de luxo e fast fashion, às possantes marcas de carros, motos e objetos de design, o homem enfeitado criou o seu nicho. É a bola da vez, a grande caça do planeta em crise.
No catálogo da mostra, o capítulo Monsieur Paon (pavão) abre com uma pensata do estilista Hedi Slimane, que diz "estamos a ponto de inventar um novo significado para o adjetivo masculino. Slimane reinventou a silhueta skinny e convenceu jovens do mundo inteiro a adota-la, ao que parece, para sempre.
Isso também reforçou a retro-corrente, segundo a qual o homem, pode se adornar sem perder o trono da virilidade. Retro porque mais adornado e entronizado do que Luis XIV (sec XVII), impossível.O burguês discreto subiu ao palco, apenas depois da Revolução Francesa (sec XVIII), e pouco mais tarde, com o endosso da Revolução Industrial, no século XIX, se vestiu de cinza e preto.Tudo isso foi exibido na exposição, na capital francesa.
Contemporaneamente, mas, devagar, seguindo um processo que vem rolando desde os anos 1980, o homem arrebenta no uso de berloques. Foi nesta década que aconteceu um modismo que a publicação "Encyclopaedia of the 80's - A decade of I-Deas", chama de newmania, a verdadeira febre de bombar um novo homem: vaidoso, consumista e muito chegado aos adereços.Isso te lembra de algo?
O livro foi publicado em 1990, pela Penguin Books. O verbete precioso, antecipa em praticamente uma década, o nascimento do metrossexual, criado por Mark Simpson, em 1994, que desnorteou o mundinho masculino, de 2002 a 2005.
A partir dos anos 2010, o homem enfeitado (l'homme paré ) explodiu, das mídias sociais aos closets mais conservadores. É um movimento sem retorno. Pls rapazes, bloggers e assessorias: parem de chamar o cara de "novo homem" e "homem vaidoso". Isso é mais antigo do que a toga de Julio César, um homem que desde novo usava saia, conquistou o mundo e não era menos vaidoso do que Napoleão Bonaparte ou Eduardo VII.
E, mais. Na verdade, macho enfeitado é tão antigo quanto o homem andar em pé coberto com couro do animal que acabou de abater e dividir a carne e ossos com sua fêmea e filhotes, na sua caverna.Lembra dos Flintstones? A roupa do Fred é tendência tanto quanto a coleção de inverno 2013/14, da Burberry: animal print.
Provas de que o homem gosta de pulseiras? Na foto abaixo, Stephan Winkelmann, CEO da Lamborghini e detalhes de editoriais da Another Man, verão 2006 e da luxuosa publicação, The Rake, edição outubro 2011.
Abaixo o livro da exposição L'Homme Paré, que ficou de 20 de outubro de 2005 a 30 de abril de 2006, no Museu da Moda, na Rue de Rivoli, em Paris.
Destaque - do luxo ao fast fashion
1 - As pulseiras passaram pelos altos escalões do universo corporativo e do luxo, mas, os pavões menos privilegiados, que vestem terno e gravata no dia a dia, também atacam de berloques fast fashion, aliados aos relógios. Aos poucos, começa a sair de cena, aquele ser que reclamava por ter que usar o traje, rebatizado de armadura, de segunda à sexta.
2 - Entra nos holofotes, como inspiração para os caçadores de tendências, o executivo que adora usar costume de sarja no fim de semana, clica seus looks casuais em detalhes que evidenciam o punho do blazer bespoke (os botões passam pelas casas) + pulseiras, e os publica na vitrine mais democrática de todos: Instagram
3 - Essa novidade bombástica, a volta do prazer do homem - não importa status - se enfeitar como um gentleman, devemos ao estilista americano,Thom Browne. Eu fico devendo matéria, contanto tudo, aos heroicos cavalheiros, cuja paciência e curiosidade os trouxe até aqui, neste post quilométrico, em tempos frugais de 140 caracteres.
4 - A cena hip hop mudou de cara. Jay Z, investe em ternos su misura, pulseiras discretas e prendedores idem, e não sai da lista dos homens do ano, da revista GQ. Pharrell Williams virou preppie e Kanye West confirma presença no ranking. O antigo bling-bling, recebeu golpe mortal. O hype é high. Para quem é high street, o high pulseirismo.
Snoopy Dogg disputa (ou seria se inspira?) com Nancy Cunard (1896/1965). Musa de Picasso a Dali, na Paris dos anos 20, clicada por man Ray, Cunard, americana rica, colecionava pulseiras africanas e as usava em overdose, daí o apelido de "a dama dos 100 braceletes".
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